Observatório de Tangentes
[ver]
A exposição “Observatório de Tangentes” que o artista Valter Ventura agora apresenta na sala MNAC - SONAE insere-se num continuado exercício de aproximação às condições históricas da fotografia enquanto dispositivo dominante da imagem na modernidade num momento em que a natureza do fotográfico e a sua sobrevivência como sistema visual conceptualmente circunscrevível é abalada pela evolução tecnológica da imagem e pelas suas deslocações no sistema comunicacional contemporâneo.
Ventura parte da histórica invenção de Étienne-Jules Marey (1830-1904), o fusil cronofotográfico - uma câmara fotográfica em forma de espingarda capaz de fixar simultaneamente 12 frames numa mesma imagem - criado por aquele médico e inventor em 1882 e do seu impacto na história da fotografia e nos estudos sobre a imagem que conduziram à invenção do cinema para se aproximar de um entendimento mais abstrato e imaterial do ato fotográfico.
A exposição inclui fotografias, objetos e um vídeo, mas mais do que de imagens, de artefactos ou ações, do que Valter Ventura se abeira nesta apresentação, é das relações, dos nexos e intercepções, das “tangentes” (termo tão dentro do vocabulário do tiro e da caça) semânticas e sígnicas que estes produzem entre si e que correm paralelos às múltiplas relações que a fotografia estabeleceu com campos do saber, conteúdos ideológicos e mitologias sociais.
As relações entre a caça e o ato fotográfico, e os trânsitos entre tiro e captura são sugeridos em várias das peças agora apresentadas através de um fluxo performativo que as ativa e relaciona entre si.
O “Observatório de tangentes” de Valter Ventura é um território de capturas que se transformam em desapossamentos e contaminações, mas é sobretudo um lugar de ponderação das relações que se estabelecem em torno da fotografia, conscientes que estamos de que ela é tanto mais valiosa quanto for essa entidade líquida à procura de si mesma.
Celso Martins (crítico de arte)
para a exposição/catálogo "Observatório de Tangentes"
Museu Nacional de Arte contemporânea
Lisboa, 2017
Observatory of Tangents
[see]
The exhibition “Observatório de Tangentes” [Observatory of Tangents], presented by the artist Valter Ventura in the SONAE room in the MNAC, is part of an ongoing investigative approach to the historical condition of photography as the dominant device for the production of images in modernity at a time when the nature of photography and its survival as a conceptually independent visual system is shaken by the technological evolution of the image and by its dislocation in the contemporary communication system.
Ventura departs from physician and inventor Étienne-Jules Marey’s (1830-1904) historical invention from 1882, the Fusil Photographique [Photographic Rifle] - a rifle-shaped camera capable of simultaneously capturing 12 frames in one image. Ventura investigates the invention’s impact on the history of photography and on studies of the image that led to the invention of cinema in order to arrive at a more abstract and immaterial understanding of the act of photography.
The exhibition includes photographs, objects and a video, but more than images, objects or actions, what Valter Ventura draws on in this exhibition is the relationships, connections and intersections that are produced between the works - the semantic or semiotic “tangents” (a term so often associated with shooting and hunting) - which run in parallel to the multiple relations that photography has established with other fields of knowledge, ideologies and social mythologies.
The relationship between hunting and the photographic act and the movement from shot to capture are suggested in several of the pieces presented in a performative flow that activates and relates the works to one another.
Valter Ventura’s “Observatory of Tangents” is a territory of ‘capturings’ that become dispossessions and contaminations. Above all, it is a place for pondering the relationships established around photography, conscious that it is all the more valuable when this fluid entity engages in the search for itself.
Celso Martins (art critic)
for the exhibition/catalogue "Observatory of Tangents"
National Museum of Contemporary Art
Lisbon, 2017